O papel ...psicólogo e as Cartas ...


Não me canso de escrever, de sonhar com palavras, de desabafar com o papel. Um ótimo psicólogo! Ouve-me… lê-me e não me responde, nem me procura encaminhar, reencaminhar, impor razões, debitar conselhos, convencer de coisa nenhuma… Pelo contrário, deixa que eu encontre o meu caminho, que responda às minhas interrogações, que esclareça as minhas próprias dúvidas, enfim, que bata com a cabeça na parede (no papel, se assim for necessário!) ou que descubra de novo o sol para com ele passear e sorrir à vida.


Quase me atrevo a dizer que o papel é o meu melhor amigo, presente em todas as ocasiões de uma forma ou de outra, nem que seja apenas sob a forma de um pequeno bloco de notas na carteira para os meus desabafos, as minhas ideias, os meus projetos, a minha lista de compras do supermercado, os trabalhos urgentes para fazer na semana/ no mês, as consultas médicas (no dentista, no ginecologista, no radiologista, …), pequenas observações do que se passa à minha volta, características de quem me rodeia que, pela sua especificidade, poderei utilizar para construir uma personagem, ocorrências a que assisto por acaso, por estar no local na hora certa ou na errada, apontamentos de tudo e de nada que me ajudam no dia a dia como pessoa e como escritora.


Não me considero organizada. Digamos que sou organizadamente desorganizada e que, não acreditando na minha memória (apesar de ter memória de elefante, como digo muitas vezes!), me sirvo destes pequenos subterfúgios para a auxiliar e para cumprir as tarefas que me propus ou se propuseram. A organização pode ser inimiga de tudo, até do trabalho. Tudo quanto ultrapasse as fronteiras do «normal», passa a ser doentio, incapacitável.


Aparentemente, senhor de uma liberdade nunca gozada, o homem do século XXI está dependente de «manias» e «fobias» que o cercam num grau mais ou menos elevado. Quando não perde o controlo das suas ações, tudo bem. Porém, quando se torna dependente delas, um escravo pronto a obedecer sem qualquer laivo de impaciência, sem qualquer pequeno impulso recalcitrante, o caso está mal parado e só pode piorar mais e mais. Alguns identificam-nas como meros tiques, sem grande importância, o que é um erro, porque, quando não consciencializadas e combatidas com maior ou menor ajuda médica/ psicológica, elas podem agigantar-se e tomar proporções tais que quem delas padece fica incapacitado. A vida normal deixa de ser possível e a pessoa vive num autêntico inferno e inferniza a vida dos outros.


Quem não procurou registar os tiques dos seus professores? Uma palavra mil vezes repetida durante uma aula, impaciência, cansaço constante, um gesto feito involuntariamente e constantemente realizado, comportamentos repetitivos…


O romance que apresentei agora «Cartas ao meu eu do outro lado do espelho» fala disso mesmo. A depressão é a doença por excelência deste século XXI. Já o era antes, agudizando-se depois da Covid-19, segundo a OMS. É necessário prestar-se atenção aos pequenos sinais que se forem detetando. Eles estão aí, as pessoas é que os não veem ou pensam que só acontece aos outros.


Terei tiques e manias, como todos, só espero é nunca perder o controlo do meu «eu».

O meu livro vai estar à venda na Wook, na Porto Editora, na Bertrand, na Loja Online da Trinta-por-uma-linha, ou então, caso o queiram comprar pessoalmente, venham ter comigo diretamente. Nada como contactar a escritora para comprar o livro e o ter autografado.

Cuidem-se e boas leituras.


Maria Teresa Portal Oliveira

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