Naturalidade e formação académica
Natural de Paranhos, Porto, Maria Teresa Portal G. de Oliveira nasceu a 5/7/1955. Cursou Filologia Germânica, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, e lecionou o 9º grupo, em 77/78, no Liceu Nac. de Guimarães, já então Liceu Martins Sarmento.
A professora
Foi depois professora dos 2º e 3º ciclos durante 42 anos, em Fafe (5 anos, onde fez a Profissionalização em Exercício), dois anos na Escola Preparatória de Creixomil (hoje EB23 D. Afonso Henriques) e os últimos 35 na EB2,3 das Taipas, onde habita.
Sempre exerceu cargos, tendo sido Diretora de Turma, Delegada de Português (2º ciclo), representante ao Conselho Pedagógico (2 anos, quando a escola se tornou EB 2,3).
O Jornal Escolar O PEQUENO JORNALISTA
Criou O PEQUENO JORNALISTA, o jornal escolar que ganhou os 2º e 3º lugares no Concurso de Jornais Escolares em 92/93 e 95/96, mantendo-o 30 anos até se aposentar.
Nos primeiros anos, em atividades extra-curriculares, lecionou um mini-curso de jornalismo que elaborou, chegando a haver 120 alunos no Clube de Jornalismo e 4 professores a lecioarem essas aulas. Mais tarde, criou a Oficina de Jornalismo e Escrita Criativa, quando a subdiretora (terminologia atual) pôde não dar aulas durante quatro anos. Nos dois primeiros ainda lecionou, nos últimos não. Já havia falta de trabalho para os professores.
Formadora no CFFH
Apesar da formação académica de base ser Filologia Germânica, a maior parte da sua vida lecionou Português (que adora), fazendo Formação para Professores de Português e, no Centro de Formação Francisco de Holanda, deu formação no âmbito do Projeto Curricular, tendo o Conselho Científico de Formação reconhecido as suas capacidades para elaborar qualquer tipo de projeto (educativo, Curricular, Curricular de Turma...). Esteve na gestão da escola/ agrupamento de escolas durante 25 anos, nomeadamente como vice-presidente e subdiretora, tendo recebido um louvor no Diário da República. Está aposentada.
A cronista
Como cronista, escreveu para o jornal regional O POVO DE GUIMARÃES e escreve para O REFLEXO, o jornal da vila de Caldas das Taipas.
Como as duas carreiras – professora e escritora – não eram compatíveis, para mais, pertencendo à direção, foi escrevendo no Jornal Escolar e guardando na gaveta até chegar a ocasião.
A ocasião chegou em 2020 em que se lançou como escritora e poetisa, embora esta só muito de vez em quando.
Uma pergunta de difícil resposta.
“Como é que escreves? Quando é que escreves?” A Escrita é já um ato tão natural, que nunca tinha verdadeiramente refletido sobre esse quando.
Um olhar para trás, para um passado onde se contam já dezenas, trouxe-me algumas respostas. O bichinho da escrita já o tinha na escola primária. Lembro-me de que já nos primeiros anos de escolaridade, em Férias, as 15 cópias (uma por cada dia!) se transformavam em 50, 60 e mais. A este prazer de escrever aliava-se o de ler. Lia tudo quanto apanhava nas mãos, desde os livros de Banda Desenhada, passando pelos livros de Aventuras (Os Cinco, As Gémeas, Júlio Verne, Coleção para Raparigas e a Coleção para Rapazes, a Condessa de Ségur...) até ao lixo- quem não se lembra daquelas coleções de livros de cowboys “Seis Balas”? E fala-se hoje nas telenovelas, mas quem não se lembra das fotonovelas, as revistas favoritas das criadas, hoje, empregadas domésticas? E as novelas radiofónicas? Chorar com a “Simplesmente Maria” ou com bons autores cujas obras eram adaptadas para novela radiofónica às quais os nossos atores de nomeada emprestavam a sua voz às diferentes personagens!
E os folhetins nos jornais? Quem não se entusiasmava com a leitura dessas obras cujos capítulos se publicavam diariamente, gota a gota? De tudo li e a este “tudo” vieram juntar-se os nossos escritores e as leituras obrigatórias e não obrigatórias num 3ºciclo (ensino secundário!) e mais tarde a literatura inglesa e a literatura alemã. Mas o gosto de escrever continuou sempre, apenas se soltando em ocasiões de obrigatoriedade - nos trabalhos que envolviam toda uma tipologia de textos, sobressaindo nas redações com tema obrigatório ou tema livre.
Foi com 20 anos que a necessidade imperiosa de escrever apareceu sob a forma poética (que ainda hoje se mantém praticamente inédita!) e assim se manteve por dois, três anos.
Depois, a entrada na vida ativa, no desempenho de uma profissão que exige muita leitura e que obriga uma pessoa a expor-se, a pôr-se em xeque quotidianamente foi o motorzinho de arranque.
Os primeiros textos foram em Língua Inglesa.
E os primeiros textos surgiram não em Português, mas em Língua Inglesa por necessidade, por não existirem, na altura, textos nem livros à disposição dos professores que pudessem ser utilizados para a exploração de determinadas funções comunicativas da linguagem ou para a aplicação de conteúdos gramaticais. Os livros de então não tinham interesse e a maior parte dos textos era feita “a martelo” ou “por medida” se preferirem.
Fazia os texttos com os alunos.
Mais tarde, surgiu como um desafio que lançava à própria professora que eu era. Se propunha aos alunos um determinado tema para a produção de texto escrito, então a professora também o poderia fazer. Por que não?
O nascimento do primeiro filh.
Mas as histórias começaram a nascer, ainda pequenas tentativas que timidamente nem à luz vinham, quando o primeiro filho nasceu. A necessidade obriga e aguça o engenho, mais precisamente porque essa criança detestava as histórias dos livros e queria histórias inventadas, cujas personagens eram invariavelmente carrinhos. Que pena tenho de nunca ter passado para o papel a história do carrinho vermelho, um delicioso carro de corrida, irmão de mais cinco carrinhos de plástico, um de cada cor e cada qual com a sua história. Nessa altura ainda andava tão longe das escritas! (Acabei por escrever essa história, da forma que me lembrava, muito mais tarde).
O Jornal Escolar O PEQUENO JORNALISTA.
Logo a seguir, com o aparecimento do PEQUENO JORNALISTA surgiu a jornalista, redatora e principalmente cronista, sendo a crónica o género paraliterário que adoro, onde “esgrimo” por vezes com as palavras e pratico um estilo incisivo e acutilante, (não só no jornal escolar, mas também neste jornal REFLEXO e na revista do Centro de Formação ELO), muito diferente do das histórias para crianças ou de outras que já não são tão facilmente interpretáveis.
A escrita é um vício.
E a escrita acabou por se tornar quase num vício, que dá um enorme prazer e como todos os viciados posso considerar-me “escrito-dependente”. Já não sei andar sem bloco, onde sempre posso apontar ideias, escrevinhar notas, tomar apontamentos ou, à falha deste, serve um envelope ou a conta do supermercado... mas sempre, sempre ligo a escrita e o prazer ao próprio ato de escrever.
O primado do manuscrito.
E... se o suporte eletrónico é mais fácil de manobrar, mais universal, o suporte papel é mais fiável, mais seguro, mais arcaico, menos ambicioso porque mais caseiro, mais duradouro. Perdoem-me, mas o prazer de escrever advém para mim do papel e da esferográfica (lápis, nunca! que não corre!). Sei que há escritores que escrevem diretamente na máquina, no computador. Serão talvez os que têm essa profissão, são escritores. (Na altura era apenas professora!)
No meu caso, o gozo da escrita surge quando espero, a maior parte das vezes como um exercício para aliviar um período de grande stresse, de grande atividade intelectual. Nunca lhe aconteceu ter muito que fazer e não saber por onde começar? Pois é precisamente nessas alturas que eu escrevo, mas tenho mesmo de escrever, de sentir as letras escorregarem da caneta para o branco do papel. É extremamente apaziguador e segue-se uma sensação de grande calmaria. Muitas vezes nem sei bem o que escrevo. As ideias fluem e seguem a mancha de tinta que vai sujando o papel. Por incrível que possa parecer é também nestas ocasiões em que o texto nasce por si, sem correções, sem necessidade de riscar o rascunho ou de procurar as palavras certas para a construção mais ou menos complexa da frase. Depois segue-se uma sensação de vazio, nem agradável nem desagradável, apenas necessária. E neste caso, a bonança antecede a tempestade, porque depois sim, a atividade surge e as coisas vão aparecendo a bom ritmo forçadas pela adrenalina.
Com as Novas Tecnologias já tentei escrever utilizando o computador. Não dá. Talvez porque não confie nas máquinas (uma falha na luz e o texto pode ir para os ares e não há na maior parte dos casos uma cópia ainda, como já me aconteceu e “gato escaldado de água fria tem medo”), talvez porque não consiga criar empatia com elas (que são frias, impessoais), a verdade é que o fio narrativo se perde, fica bloqueado, face àquele ecrã iluminado onde as letras se vão alinhando muito certinhas e sempre iguais. Tal batalhão não me convence. O teclar não tem uma ligação física como a folha que acariciamos quando escrevemos e pela qual arrastamos mansamente a mão. É uma relação dual a que se estabelece com o papel. Também o jornal me transmite o mesmo sentimento.
Relação possessiva com o papel, inexistente com a máquina.
Talvez seja demasiado possessiva, mas a verdade é que para sentir que algo é meu, tenho necessidade de tocar, mais do que ver. Não me basta ver a página da escola construída e saber que ela está na Internet. A sua consulta implica uma série de condicionantes que a distancia, que não a torna palpável.
Não sei se estou a transmitir o que sinto, mas a relação que eu estabeleço com o papel é única e, no entanto, nunca fui partidária da redação de um Diário. Apenas porque há verdades que nem ao papel se devem dizer. Não é só o Poeta que é “um fingidor”; o escritor também o é na medida em que cria e recria realidades, jogando com as palavras e com as personagens a quem dá vida, emprestando-lhe as suas experiências, as suas vivências ou as dos outros, ou inventadas... e dando-lhes as ideias e sentimentos que possam ter sido os seus algum dia ou até no próprio momento do ato criativo. Quem sabe?
E lá virá um dia alguém, com uns quantos conhecimentos de literatura rotular o escritor, inserindo-o numa determinada corrente literária, seguindo uma certa vertente filosófica, etc, etc, e tal... que vai encontrar nas linhas e entrelinhas do seu discurso tantos significados ocultos e tantas interpretações que, se o desgraçado do escritor pensasse nisso quando elabora e cria a sua obra, certamente a fecharia a sete chaves ou lhe pegaria o fogo.
Não receio críticas nem interpretações de terceiros. Escrevo o que me apetece, quando me apetece, quantas vezes para ocupar o espírito que necessita de distração, de entretenimento, de ocupação... até para que outros problemas possam ser resolvidos e, porque, confesso, sou “escrito-dependente”. Tornei-me viciada!
E hoje, já aposentada, escrevo porque me virei para essa nova profissão que me encanta- SER ESCRITORA.
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