Ah! Como é bom escrever!


Gosto de conversar, de me sentar na esplanada, enquanto saboreio o meu descafeinado. Atividade ideal para um dia de sol, que me eleva a autoestima. Se o dia está chuvoso e húmido, não há descafeinado que o salve. Talvez uma barra de chocolate preto ajude a dar a energia necessária ou talvez não.


Talvez uma sesta no quentinho da sala, deitada no sofá. Esta atividade relaxante é proibitiva para mim, pois o sono permanece lá longe, olhando-me com ar de gozo. Nessas alturas, um chá e torradas com manteiga reconfortam-me a alma e levam-me até à minha infância, onde, aos domingos, o chá das cinco se fazia com todas as etiquetas: toalhas bordadas, xícaras de porcelana inglesa, bule de prata, chá preto Nampula, cocadas e as famosas torradas pinceladas com manteiga derretida.


Se acrescentarmos uma música ambiente calma, então a tal tarde macambúzia pode transformar-se numa tarde introspetiva e repousante. Também recordar tempos e histórias passados pode ser gratificante, quase ao som do “era uma vez”…


Mas, também adoro estar sozinha a ouvir o som dos meus pensamentos. É nestas alturas que leio e escrevo. Os momentos de escrita são dos mais agradáveis e felizes da minha vida. Eu não sou eu. Estou num plano diferente, bem longe do planeta Terra, onde a paz é paradisíaca e o silêncio é embalador.


E observo esse outro eu que não vê nem ouve, que parece absorto em pensamentos indecifráveis e que até franze o sobrolho, coça o nariz, despenteia o cabelo, tiques inconscientes de quem efetivamente não está estando.


Muitas vezes… transporto-me para esse patamar sem dar conta e aí me deixo ficar, enquanto a inspiração vai escorrendo pelo braço e desenhando palavras na folha branca à minha frente, que vão formando um texto coerente, uma crónica satírica e mordaz, uma história de encantar… até algo me “acordar”, me trazer para este mundo de onde me escapuli por alguns minutos preciosos.


Com as pilhas recarregadas, parto para outra viagem. É que não consigo estar muito tempo longe da escrita. Todos os dias escrevo.... Umas simples palavras, meia dúzia de linhas bastam… Quando é que terá fim? Não sei. Logo a seguir, anos depois.


É por isso que lá por casa abundam os papéis, os blocos de notas, os guardanapos, os envelopes… com coisas escritas, porque, quando me dá na veneta, tenho de desabafar com o papel, nem que seja para o culpar da falta de inspiração ou do dia tristonho ou da má disposição. E ele está sempre ali, um escravo às ordens. Ah! Como é bom escrever!


Maria Teresa Portal Oliveira

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