Alma Lusitana
Ninguém escolhe a família, a religião, o país. A roleta da vida encarrega-se de fazer a distribuição e ela foi uma das sortudas. Para além de ser imortal, calhou-lhe ser a alma deste cantinho abençoado - Portugal, uma nação que vai a caminho dos 9 séculos de idade.
Acredita que foram todas as misturas ancestrais (celtas, iberos, fenícios, romanos, lusitanos) que fizeram dela o que éera – uma alma ferrenha extremamente patriota.
Sempre foi guerreira e acompanhou a monarquia durante sete séculos e meio, mas, desde a implantação da República em 1905, viu-se bem aflita para desempenhar o seu papel com as diferentes nuances que lhe atribuíam. E esse termo - patriota, caiu em desuso no século XX, com as conotações atribuídas que não se coadunam com a liberdade. As ideias e valores, que lhe estão subjacentes, passaram a ser olhados como conservadores e ultrapassados.
Não pensa assim. Quem viaja (e ela andou pelos quatro cantos do mundo), sente a ânsia de voltar para este cantinho ensolarado confortável e acolhedor, onde tudo foi e é bom: o clima, a gastronomia, o povo (tão enaltecido por Camões no seu poema épico “Os Lusíadas” e cantado por tantos outros grandes da língua portuguesa), os costumes, as tradições.
Conhecer novos locais e novas gentes era e é bom, mas era e é com uma grande alegria e um alívio muito forte que regressa(va) à sua “casa” e ao seu “povo”. E relembra os grandes heróis de outrora que lhe deram a substância, desde Afonso Henriques até à Ínclita Geração, cujos filhos de D. João I, escreveram uma parte substancial da sua História, principalmente o Infante D. Henrique e a sua escola de Sagres… os navegadores Gil Eanes, Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral e tantos outros que andaram por essas terras pelejando e alargando o império.
Só aqui respira perfeitamente e é feliz. Acredita que todos os portugueses têm nos genes a matéria de que se fez a nação. Todos são um misto de sonhadores e de homens/ mulheres de ação. Profundamente humanos, sensíveis e bondosos, não são fracos, nem toleram a fraqueza. Mas, têm o coração ao pé da boca e ele comanda tudo.
E porque idealistas e imaginativos, com forte espírito crítico e uma ironia mordaz, acreditam em milagres e em soluções miraculosas. Enfrentam a adversidade com grande presença de espírito, sem histerismos, com grande criatividade e poder de adaptação.
Não pode esquecer a “saudade”, essa palavra que tão bem define o seu caráter paradoxal, que os guia à realização das maiores empresas ou a um fatalismo mórbido que se alimenta das memórias passadas, de que o fado é expressão significativa.
Sempre que sai do país (e se torna emigrante), persegue um sonho, mas nada se perde. Tudo permanece bem arrumado na sua maneira de ser e, como alma avisada que é, fez uma cópia de segurança do seu disco duro, pronto a ser reinstalado no regresso às origens.
Maria Teresa Portal Oliveira
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