Quando me dizem «fala sobre» … para mim, significa «escreve sobre» …, porque o acto da fala e da escrita são quase indissociáveis, já que aquela conduz a esta, principalmente quando esta tem de ter um certo «significado» e «conteúdo».
O falar exige uma certa preparação, não é o mesmo que conversar. Se estou entre amigos, não me preocupo com o vocabulário, nem com o sentido do que digo. Quantas vezes o pensamento não acompanha as palavras ou estas não acompanham aquele e o discurso aparece desconexo, hesitante, gaguejado… E daqui não advém nenhuma preocupação. Todos nos entendemos e a comunicação estabelece-se apesar de tudo.
Porém, quando falar significa discursar, falar sobre, argumentar, dar a opinião sobre algo ou alguém… bom, o caso muda de figura e o discurso tem de ser minimamente estruturado para fazer sentido, para agradar (desagradar) a quem nos ouve e a nós próprios, principalmente.
Para mim, escrever está na mesma linha do segundo texto, o delineado, o preparado, o organizado. As frases não nascem lineares e certinhas, com as palavras ordenadas em filinha indiana. Quantas vezes o texto tem de sofrer uma verdadeira cambalhota para se aproximar do que foi idealizado!
Às vezes, recusado, acaba por ficar esquecido no fundo da gaveta dos rascunhos, num escaninho da memória. Por vezes, uma palavra puxa outra e procuro freneticamente o que me lembro de ter escrito há uns dias, meses, anos… umas vezes encontro e outras não. Há que refazer então o escrito que, escondido no emaranhado das ideias que se vão alinhando, vai ganhando forma e surgindo com um novo vigor. Outras vezes, são ideias já trabalhadas que voltam à mente e procuram uma nova oportunidade para brilharem, para serem reutilizadas porque o assunto assim merece e permanece atual.
Isto para não falar daqueles textos (que o não são) e que estão tanto em voga nos tempos que correm, onde tudo é permitido, pois o que conta é a liberdade de expressão do escritor. E só alguns “iluminados” os entendem.
Atualmente, acho que é uma “moda” escrever textos ilegíveis para o cidadão comum. Talvez seja para que todos nos autointitulemos idiotas, incapazes de compreender Português (menos os pseudointelectualóides que tudo entendem).
Como me considero minimamente inteligente e até sou adepta da leitura e gosto muito de ler, então utilizo os meus direitos inalienáveis de leitora definidos por Daniel Pennac “O direito de não ler”, “O direito de não acabar um livro”, “O direito de saltar de livro em livro” e recuso-me a ler.
Maria Teresa Portal Oliveira
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