Blogue > Contos Infantojuvenis > De que é feita uma história?
terça-feira, 19 de dezembro de 2023
terça-feira, 19 de dezembro de 2023
Era uma história que queria nascer e queria ser narrada. E logo dois seres começaram a discutir, seguindo-se uma discussão acalorada para saber qual deles venceria.
Por um lado o autor que criaria a história, que lhe daria origem, que seria o progenitor e, por outro, com grandes parangonas de ditador que decidiria como ela viria a lume, com que forma seria contada - o narrador. Seria um narrador participante ou um com um papel menos interventivo, com um papel de mero observador?
E a discussão ameaçava não ter fim, se não fosse a intervenção da personagem principal, do herói, ansioso por desempenhar o seu papel de galã. Era meio imbecil e muito senhor dos seus bigodes, este príncipe de meia tigela, mas já tinha visto, quer dizer, lançado o rabo do olho para a personagem principal feminina, uma pobre camponesa de beleza estonteante. Com um perfil grego e um rosto alvo trabalhado a cinzel, a Rosinha tinha tanto de bela como de inteligente. Por isso, não ligou pevide ao nosso doidivanas e continuou a estudar laboriosamente as suas deixas com a ajuda da princesa Zita, uma personagem secundária, sem grande interesse para a história, essa sim uma cabeça no ar e que ficou a fazer olhinhos para o príncipe Valente, o tal, um nome bem desapropriado quanto a mim.
Desculpem! Saio já da história, que não fui para aqui tida nem achada.
Ora, acabada a supracitada discussão e acordado que o narrador seria participante e desempenharia um dos papéis principais, faltava decidir a localização espácio-temporal.
E recomeçou a querela, desta vez com as personagens à mistura, até que o narrador, um mocho sabichão e muito ponderado, acrescentou na sua voz de baixo:
— Se é um conto, então é intemporal, por isso, bastará dizer “Era uma vez” ou “No tempo em que os animais falavam” ou “ Há muitos, muitos anos…” e, se temos príncipes e princesas ao barulho, bastará dar o nome a um reino do faz-de-conta e aí colocar a história. Tantas discussões para quê? Ai, a minha pobre cabeça! Até estou zonzo.
E o pobre mocho, nada habituado a andar de dia, foi-se recolher na torre mais escura do castelo da Bruxa Malvada.
Dir-me-ão vocês. Afinal já havia um castelo? Então, o local já estava definido! Pois não era bem assim. Havia o da bruxa, mas tinha de haver outros, os dos príncipes. Hoops! Voltei a meter a colherada!
E assim foi decidido o local:” Lá longe, na Terra onde o Sol se Põe, havia dois reinos que se guerreavam desde sempre. Os reis eram velhos rivais e nunca se tinham entendido, continuando as lutas há muito protagonizadas pelos seus pais e seus avós, antes deles”.
A sequência das ações narrativas também teve de ser negociada e, como os reis não se davam, o autor decidiu que as ações seriam narradas alternadamente, contando as peripécias ora de um ora de outro, para que o desenrolar da história decorresse sem problemas e, já agora, com a história do mocho perfeitamente encaixada, como ele me bichanou.
E as personagens, dirão vocês?
Elas já se foram apresentando: o príncipe Valente, fanfarrão e mulherengo; a camponesa Rosinha, belíssima e inteligente; a princesa Zita, aérea e meio tontinha; a Bruxa Malvada, obrigatoriamente má; o mocho, o narrador, sabichão e responsável e cujo nome não apanhei.
Já chegam, não acham? Mas, podem colocar mais umas poucas à mistura e podem contar o conto. Fico à espera. Aproveitem as dicas que vos fui deixando. E lá estou eu a ser abelhuda, novamente. Não resisto e tenho sempre de intervir.
E para terminar, decidiram utilizar o remate mágico “E foram felizes para sempre” ou então como rezam os finais dos contos transmitidos oralmente: “Bendito e louvado, está o conto acabado” ou “Vitória, vitória, está acabada a história”
A brincar com o alfabeto
Maria Teresa Portal Oliveira
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