A primeira questão que se coloca é, pois: O que é um professor e qual a sua função?
“Missão, sacerdócio… Penso que são expressões que têm a ver com o reconhecimento de que a função de professor não é a de um mero funcionário que está a cumprir um horário. Tem de ter uma compreensão muito grande da importância decisiva daquilo que está a fazer. E isso dá uma espécie de quase sacralidade à sua tarefa”.
“Mas ensinar não é informar; ensinar é constituir uma rede de conhecimentos, é sistematizar; dar pistas de orientação… É cruzar. Não é introduzir informação em pacotes, em bytes. Portanto, quanto mais informatizada é a sociedade, quanto mais ela é capaz de autonomamente introduzir informação nos sistemas sociais, mais importante é o papel do professor. Porque o professor – e agora não estou a falar do educador – é aquele que oferece uma cartografia, um mapa, no interior do qual as várias informações podem encontrar o seu lugar… O trabalho do professor é a articulação, a relacionação…” (Pombo, Olga; A Escola é o lugar onde a memória se faz futuro; pp. 10-12),
Apesar do que aqui cito e com o qual concordo plenamente, a professora Paula Pombo caminha depois, ao longo dessa entrevista, num sentido com que não concordo ao querer espartilhar o ensino dentro das paredes de uma sala de aula.
Em 1 de junho de 2009, publiquei no Povo de Guimarães este artigo:
“O que é um bom professor? Esta foi a pergunta que me coloquei, mas depois achei que ia perder tempo a enumerar uma série de caraterísticas sobre o perfil do professor que outros, muito mais capazes, já enumeraram nos normativos e de tal forma que todos quantos as leem se consideram maus professores ou indignos de se intitularem como tal.
Optei, assim, por ser mais direta e por lançar aos ventos o meu grito... não sei se de dor, de revolta, de angústia, de raiva,…
E pensei que, para se ser professor, nos dias que correm, é necessário ser cego, surdo, mudo, obstinado, teimoso, ator, sonhador.
CEGO para não ver, fingir não ver o que está mesmo à frente do nariz- o desinteresse dos alunos, a falta de concentração, a falta de empenho nos trabalhos, a falta de motivação pela escola; por outro lado, a desconsideração e falta de respeito demonstrados por pais e entidades oficiais.
SURDO para fingir não ouvir o «diz-se diz-se» das bocas do mundo (alunos, pais, mesmo colegas) que nunca constroem, antes procuram amesquinhar e maltratar (conscientemente, quantas vezes com requintes de malvadez) os que querem trabalhar e se empenham no que fazem. (…)
MUDO para calar a voz que quer soltar o seu grito de dor, de revolta, numa ânsia de levar tudo à sua frente, de pôr os pontos nos is, de pôr em sentido quem fala aos ventos por falar, de exigir que ouçam a sua voz de pessoa qualificada para o ensino (…)
OBSTINADO para continuar firme no seu posto apesar de todos os vendavais, de todos os temporais e capitanear a nave impedindo o seu naufrágio, impondo regras à sua tripulação e não a deixando desistir. Continuar a trabalhar nas condições atuais tem exigido aos professores muitos sacrifícios e muita vontade, mas isso não tem preocupado minimamente quem está no poder.
TEIMOSO para ser como a mosca e continuar a bater contra a vidraça -uma e outra vez- sempre esperando que esta desapareça e surja um buraquinho por onde possa passar, ou seja, é necessário que não se canse de remar contra a maré. Apesar da pouca importância que lhe dão, que seria da educação em Portugal se os professores se abstivessem da sua função de ensinar?
ATOR para ser capaz de fingir que está tudo bem quando tudo vai mal, para ser capaz de deixar a vida pessoal ao portão da escola mesmo quando ela se impõe aos gritos, para ser capaz de se transformar numa multiplicidade de personagens de que os alunos possam necessitar (pai, mãe, psicólogo, assistente social,…), para transformar o que é aborrecido numa diversão, para chorar e rir com os alunos, para… para…
SONHADOR para nunca perder a esperança na juventude e no mundo, para pensar com criatividade na sua profissão e nunca estagnar, para começar cada novo dia com um sorriso nos lábios e um pensamento positivo, para continuar a achar que o melhor do mundo são as crianças”.
Ser Professor é não recear quebrar barreiras, não temer ir contra a maré, não ser mais um carneiro do rebanho…
“Lembro. E pergunto: qual foi o meu melhor professor? Difícil, a resposta. Porque haverá vários. Porque o critério de avaliação é complexo. Mas, imerso na memória, arrisco o factor distintivo: o meu melhor professor foi o que conjugou a exigência, o desassossego, a abertura a novos (e estimulantes) pensamentos. Foi o que nos fez desaprender (o lugar e o senso-comum, o estereótipo), o que nos fez espantar, o que intelectualmente nos incomodou, o que acendeu o desejo de saber mais.” (Alves, Matias; 2007)
Maria Teresa Portal Oliveira
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