Aos 9 anos pretendia ser farmacêutica seguindo as pegadas da minha mãe. Que maravilha! Aliviar o sofrimento das pessoas, principalmente das crianças em África, para onde a Farmácia Vitália enviava muitos medicamentos, situada no fundo da Avenida dos Aliados, onde ainda existe e a minha mãe trabalhava aí no laboratório. É verdade...
Viajando mais no tempo, até entrar para o Liceu Carolina Michaëlis, queria ser freira.
A escola primária "Escola de Jesus, Maria e José", um colégio de franciscanas (escola pública, não privada), esteve na base desse desejo. Sempre me fascinou a vida contemplativa que, hoje, seria impossível, pois não dispenso o computador, a Internet e o telemóvel, a que nos escravizamos diariamente.
O meu pai costumava dizer "Ausência de notícias é sinónimo de boas notícias. Verdade!"
E duas freirinhas foram as "culpadas". A irmã Cidália da creche (pré-escolar) que, na hora do soninho da tarde, ficava sentada no chão, bem quietinha, com três ouquatro cabecitas no seu colo... A brincadeira da chuva com os dedos desde o pingar até à tempestade (a bater palmas) que nunca esqueci.
A outra, a irmã Açucena da 1ª classe, um doce. Cativava os alunos com a doçura e não castigos. Não me lembro de a ver a dar reguadas.
Fiz a 1ª Comunhão na escola e a Profissão de Fé (Comunhão Solene) na minha paróquia, Paranhos, depois de fazer um exame oral pelo pároco Dr. Neves (como queria que lhe chamassem).
Íamos todas as sextas-feiras à Igreja e não só (a missa dominical era no colégio) e fiz as novenas todas que tinha de fazer enquanto lá andei.
E rezávamos todos os dias antes das aulas. E tínhamos catequese aos sábados.
Todos os anos havia uma procissão, talvez no Corpo de Deus porque era calor.
Recordo especialmente uma em que a minha irmã Isabel (muito alta para a idade) levava uma vestimenta muito curta de Rainha Sta Isabel e ficou com as pernas à mostra e eu ia de Sta Terezinha do Menino Jesus com um hábito tão comprido que tinha de dar um pontapé à vestimenta para dar um passo. (A foto é bem esclarecedora. No meio, a minha irmã mais nova ainda andava na creche).
Aconteceu o que era de esperar. Na bendita procissão, a santa que me seguia mandou-me um empurrão e lá fui eu parar ao chão. Por pouco não andavam as santas todas à bulha.
O crucifixo de prata da minha mãe enfeitado com flores de Sta Terezinha, aquelas cor de rosa tão pequeninas, voou e o "raio" do arco deSta que quase me furava as fontes voou também. Só tive pena que não partisse porque mo voltaram a colocar e a procissão lá seguiu.
Não participei mais nas procissões vestida de santa. Ia de Cruzada: bata branca com a faixa atravessada com a Cruz de Cristo e o véu branco na cabeça.
A minha sólida formação católica deve-se a estas franciscanas e à Madre Isabel, a minha professora de Religião e Moral no liceu.
Talvez por isso sempre me intitulei a "padreca de serviço na escola" e muitos alunos pensassem que eu era professora de Moral, de História, de tudo... menos de Línguas.
Maria Teresa Portal Oliveira
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