A postura na sala de aula, nos dias de hoje, é uma situação problemática para alguns. E segue-se uma discussão estéril sobre quem será o culpado, quando todos sabemos que a culpa morreu solteira. Acaba por estar inerente à postura do professor (ao tal perfil que muitos não têm) e está, sem dúvida nenhuma, à falta de uma boa palmada pedagógica em casa ou de um bom sermão ou de uma boa motivação. A escola é um prolongamento do que é feito ou não em casa, se bem que o aluno viva entre os seus muros a maior parte do dia. A ausência de regras é uma constante; por isso, é necessário que, na escola, estas existam e sejam cumpridas.
“Muitas vezes levo a ideia aos professores de que o que fazem não é o ensaio geral, é a vida. E pergunto se, no dia-a-dia, quando são professores, se vão fazendo mais felizes ou mais desgraçados? À medida que vão tendo mais anos, como se vão tornando? Mais quê? Mais humildes, mais sábios, mais felizes, mais otimistas, mais comprometidos? Ou essa vivência vai-os fazendo mais tristes, mais pessimistas, mais cansados, mais distantes, mais sensíveis? Digo que isto não é ensaio geral, que é a vida, porque não vai haver oportunidade de fazer de novo. Ser inteligente é desenvolver a capacidade de ser feliz e de ser boa pessoa. Não é mais inteligente aquele que mais dinheiro acumula e se sente mais infeliz. Por que é inteligente, se é mais desgraçado, se está infeliz? A inteligência não é o armazenamento de conhecimento, mas a capacidade de saber viver honradamente e feliz. Por isso, os professores têm nesta questão algo fundamental para as suas vidas e para a vida dos alunos, porque não é igual trabalhar com um professor feliz ou com um professor amargurado. Os alunos sabem-no muito bem”. (Guerra, Miguel Santos; A vida de professor é apaixonante; p.12)
A propósito, segue um pequeno texto “Regras de etiqueta, um conceito do passado?”, publicado no Povo de Guimarães, em março de 2009:
“Sou completamente avessa a normativos, a leis, aos próprios manuais escolares… enfim, a tudo quanto me espartilhe e me faça andar por carris estreitos sem grande azo a liberdades e me façam perder a respiração, a paciência, a vontade de seguir em frente.
Contudo… CONTUDO, em maiúsculas e em negrito, há regras que fazem parte do meu eu, tal como me conheço, desde sempre. Chamem-lhes regras da boa educação, onde se englobava a cortesia e a etiqueta à boa maneira portuguesa, antiquada e fora de moda para muitos. (…) Penso que «sei estar», o que é algo que muitas pessoas (algumas já não tão jovens quanto isso!) ignoram, nomeadamente, a gente nova.
A etiqueta é erradamente associada a uma elite que leva uma vida social ativa. Pelo contrário, a etiqueta é a base da educação, é um conjunto de regras básicas que nos dizem qual o comportamento e atitudes a tomar em determinadas circunstâncias e ocasiões da vida. (…)
Assim, podemos dizer que a educação e a dita etiqueta são duas aliadas imprescindíveis para se «saber estar» em qualquer local ou situação.
Ora, numa altura em que se fala tanto que a avaliação dos alunos deve ser tripartida, focando diferentes vertentes essenciais - o saber, o saber estar, o saber fazer – parece incongruente que os discentes estejam tão afastados do tal parâmetro «saber estar». Onde e como se pode promover nos alunos o Saber Estar? Em aulas de Formação Cívica, certamente, nas aulas de Língua Portuguesa, de História, de Ciências Naturais e da Natureza, sem dúvida, … ou seja, em qualquer área curricular disciplinar ou não disciplinar. Isso quer dizer que o «saber estar» percorre todo o currículo como área transversal. Chamem-lhe Educação para a Cidadania, mas não basta, pois também é Educação Sexual, Educação para a Saúde, Educação para o Ambiente... É que, a educação em casa, no recreio, nas ruas da vila, na catequese, no clube que frequenta, na piscina, nas aulas de Língua Inglesa na International House ou no Britânico, nas aulas de ballet, nas aulas de caraté, nas aulas de hóquei em patins, nas aulas de voleibol, nas aulas de música,… enfim, o chamado currículo oculto tem também uma enorme influência na personalidade e no caráter de cada um.
«O homem é um ser eminentemente social» já dizia Aristóteles. (…) Ora, para viver em sociedade, o homem tem de respeitar e cumprir regras, dentro de uns certos limites. As tais regras do saber estar. (…)”
Maria Teresa Portal Oliveira
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