Felizmente para nós, pais e educadores, a Literatura Infantojuvenil no nosso país floresceu, floresce e tem uma posição cada vez mais fortalecida no campo editorial português. Depois ainda dizem que as crianças não leem!
Com uma tão grande e variada oferta que se vende ou as editoras já teriam há muito desistido, pois que negócio que não renda não é parceiro querido de ninguém, uma questão se coloca: Que fazem os jovens dos livros que recebem? Usam-nos para embrulhar castanhas, para papel higiénico ou para fazerem aviõezinhos? É claro que não. Acredito que alguns os guardem nas prateleiras e os conservem virgens durante longo e indeterminado tempo, até que um irmãozito mais novo, mais dado às letras ou às imagens resolva explorar aquele terreno inexplorado, quantas vezes com marcadores, lápis de cor,… ignorantes que são do conteúdo que os grafismos, ainda sem sentido, encerram. Porém, outros desvendarão gulosamente e com grande ansiedade todas as aventuras que o livro contém e partirão nas asas da imaginação. O livro…
Na época do audiovisual e da informática, os jovens dispõem de DVDs, de CD-Roms com histórias, com jogos, para já não falar das play stations, x-boxes e Internet e de toda uma gama de material ao dispor do jovem em aberta concorrência à leitura e de muito mais fácil acesso, sem grande esforço. Por outro lado, as criancinhas, os mais pequeninos, ficam vidrados no pequeno ecrã, o que, convenhamos, até é muito prático para os pais/ educadores que não são incomodados pelos seus pequenos rebentos/ alunos. Mas… não é por esse campo que quero enveredar… Poderá ficar para depois, para uma nova intervenção.
O que quero recordar são os filmes de Walt Disney. Que saudades! Tornou-se “moda” junto dos críticos da moderna literatura infantil falar mal dos filmes da Walt Disney Productions acusando-os de terem imagens chamativas com falta de qualidade plástica. Não sou entendida na matéria, mas não gostando desse tipo de imagem estereotipada no livro, enquanto suporte escrito, creio ter o seu lugar e ser insuperável no suporte audiovisual. Quem não recorda os filmes que foram surgindo, alguns ainda na minha adolescência- a Bela Adormecida, a Branca de Neve e os Três Porquinhos ou, mais proximamente, a Pocahontas e o Príncipe do Egipto? Serão estes os tais vídeos de má qualidade que abundam nas prateleiras das estantes dos quartos dos nossos filhos? Mil vezes não. Todos temos direito a ter a nossa opinião, concordemos ou não com a pedagogia vertida em manuais que quase não são lidos por ninguém.
Os filmes podem levar à leitura e vice-versa, quando lá está o “bichinho”. Como explicar o sucesso de vendas dos livros do Harry Potter? Os condimentos estavam lá para que o sucesso aparecesse e o primeiro filme, se bem que belissimamente bem conseguido, não conseguiu superar o livro e todos (os amantes da leitura, claro!) foram lê-lo, para detetarem as diferenças, as falhas e para discutirem como devia ter sido feito. O sucesso do segundo filme estava garantido de antemão, assim como a publicação dos livros que todos aguardavam até altas horas às portas das livrarias, sucedendo-se as edições. E o terceiro filme trouxe ainda mais efeitos especiais e o interesse não diminuiu nem com a morte do ator que fazia de diretor da escola de Hogwarts, o professor Dumbledore. E seguiram-se os quarto, quinto e sexto livros, este último com a morte dessa personagem e os jovens choraram-no como se de um amigo se tratasse. E a morte de Harry, anunciada para o sétimo e último da saga, foi violentamente contestada e J.K.Rowling teve de dar um outro final à saga.
Ninguém queria que o jovem Harry fosse vencido pelo lado negro da vida. Porquê? Num mundo cheio de problemas, de guerras, de violência, de morte,… o recurso à Fantasia, à Imaginação e à célebre dualidade entre o Bem e o Mal, bem como o triunfo do primeiro parece ser a receita “mágica”, inacreditável. A humanidade está cansada de ver o mal triunfar, levar a melhor sem que um Harry Potter o enfrente. Talvez seja esta a razão do sucesso destes livros entre os adultos e os jovens.
Todos nos queremos refugiar num mundo de aventuras que nos devolva a boa disposição, nos ajude a pintar a vida com as cores da esperança e da alegria e nos ajude a superar os maus bocados que temos de enfrentar. E, quando o desenho animado/computorizado é bom- é a minha opinião e estou em muito boa companhia, que eu saiba! (estou a pensar no Shrek, no Nemo, no Panda) e tem mensagem, então está a desempenhar a sua missão tripla de educador porque informa, forma e distrai.
Maria Teresa Portal Oliveira
© 2021 | Maria Teresa Portal Oliveira I Política de Privacidade I Termos & Condições