Prémios

Amei-te sem saberes-junho 2024 - poesia concorrente à Coletânea A Mulher e o Amor, desafio lançadp pelo Desafio pelo Instituto Cultural de Évora. A presente coletânea pretende enaltecer duas datas celebratórias especiais, o dia da Mulher e o dia de São Valentim, e os sentimentos que por elas são despoletados, transformados aqui em belas obras.


Fome[poesia] vencedora do 2º Concurso Internacional de Conto e Poesia Reinaldo Corona. Reflexões. Brasil. Setembro 2020. 2ªedição.


Ter-se-á o mundo finalmente conectado? [conto]. Menção Honrosa do 3º Concurso Internacional de Conto e Poesia Reinaldo Corona, Conexões. Brasil. 2021.


Na Festa da Senhora [conto]. Menção Honrosa na 22ª edição do Concurso Literário Prémio Dr. João Isabel. Câmara Municipal de Manteigas. Portugal. Julho 2021.


Ruivinho[conto]. Vencedor da Colectânea Philia de Contos Juvenis-2021-Eu Leio um Conto. Brasil. 2021.

AMEI-TE SEM SABERES


Amei-te, não sabias

Olhavas e não vias

Estavas do avesso

Ignoravas a minha solidão

Negavas-me a tua mão

Vi-te sorrir

A face da lua corou

Perante o teu rir

Cristalino e suave

Voava qual ave

Rumo ao firmamento

Do meu contentamento

Sou feliz a amar-te

Mesmo que o não saibas.

Sou paciente,

Saberei esperar-te.

As noites as madrugadas

Até que acabes por entender

Serão desejadas.

Que o rubor do teu rosto

É o reconhecer o meu ser

Amei-te, procurei-te

Desesperei, mas encontrei-te.


3ºConcurso Reinaldo Corona 2022- Conexões

Conto- Menção Honrosa

Ter-se-ia o mundo finalmente conectado?


Relampejavam dardos daqueles olhos. A face torcida num esgar de ódio olhava-me com repúdio, com nojo. Sentia-me discriminada mesmo sem verbalizar o que experienciava. Era visível que me detestava e eu não sabia porquê. Não me lembrava de o ter visto, de com ele ter alguma vez interagido presencialmente, por carta, e-mail ou telemóvel.


Estava certa de que não fazia parte do rol de conhecidos muito menos de amigos nem sequer daqueles com quem nos cruzamos frequentemente e, quantas vezes, nos interrogamos: "Conheço-o donde?"


Talvez de frequentarmos os mesmos lugares, de seguirmos as mesmas vias que nos levam ao trabalho, ao teatro, ao concerto, a um evento social que, por repetitivo, passamos ver os mesmos rostos, quem sabe: uns ficam na memória, outros desaparecem. Aquele não. Por mais que me esforçasse não havia reconhecimento por pequenino que fosse. Contudo, ele conhecia-me. Donde?


Aqueles olhos malévolos perseguiam-me e começaram a acompanhar-me de noite nos pesadelos que comecei a ter com frequência. Tormento recorrente que me incomodava e me impedia o descanso tão necessário porque andava assustada e depois vinham os olhos ao consciente quando me esforçava por compreender o motivo da minha aflição.


A necessidade de estabelecer contato era dele, não minha. Mas não devia ser coisa boa da forma como me olhava. Eram verrumas a perfurarem-me o cérebro sistemática e diabolicamente. Na altura, rezava um Padre-nosso e desaparecia, esfumava-se e eu acalmava.


De tanto pensar, consegui localizar a sua aparição no tempo: no começo da maldita pandemia que nos isolara e impedia todo tipo de contactos presenciais entre os seres humanos reduzidos ao contacto através da frieza das máquinas dos telemóveis, dos computadores, reuniões por zoom, skype ou qualquer outra plataforma que permitisse ver os rostos dos entes queridos, já que os abraços, os beijos, as viagens entre concelhos e distritos em quarentena impediram o contacto humano. E assim se tinha passado um, passado dois anos... sem natais, sem páscoas, sem festas familiares, sem casamentos... com mortes de familiares, de amigos, de conhecidos com a doença ou outra maleita, enterrados em sacos quantas vezes na fase aguda da pandemia, sem o conforto da presença humana dos entes unidos por laços familiares ou de amizade.


Ao que o mundo chegara: só podem ir ao enterro quinze pessoas, só podem entrar no café quatro pessoas por mesa se fossem da mesma família... E todas essas medidas que nos isolavam eram um ataque contra a nossa sanidade mental. "O homem é um ser eminentemente social" dissera Aristóteles. As relações são o esteio com o qual nos mantemos uns com os outros.


E os efeitos negativos começavam a fazer-se sentir: a depressão, angústia, a indisposição, o medo tinham-se instalado nos que eram responsáveis, já que os imbecis continuavam a contornar as regras de distanciamento social e chegavam a recusar a utilização da máscara. O mundo tinha de se adaptar a essa nova condição de doenças que nos iam afligir de um modo permanente, pois atrás desta viria a outra, "cozinhada" ou não, a acreditar nos cientistas e nos pregadores do fim do mundo que fazem da catástrofe a sua vida diária.


"É o planeta a responder ao mal que lhe estamos a fazer!" dizia-se à boca cheia. E, na verdade, as cheias, as tempestades vieram juntar-se à pandemia causando ainda mais sequelas na já tão fragilidade mente humana.


Ansiosa de risos e sorrisos, de gargalhadas, de abraços, também eu começava a sentir os efeitos da falta de contacto, principalmente por estar na linha de frente há tanto tempo.


Naquele dia, a manhã estival acordou pardacenta e fria. Nem o tempo conseguia já manter o contacto com o calendário e sugerir as estações, e eu sentia-me com falta de ar e a cabeça doía-me fortemente. Se não fosse muito racional, teria sobre carregado a linha do SNS 24, mas sabia bem que a causa era falta de descanso e a minha asma assanhada pelo uso permanente da máscara.


Andei todo dia maldisposta. Era a primeira folga que gozava desde há mais de quinze dias, depois do último surto. E resolvi pôr a "escrita" em dia, fazendo os meus telefonemas pelo Whatsapp para ver os rostos de quem sentia tanta falta. Telefonei ao meu filho e nora, aos meus irmãos e sobrinhos e ainda demos umas gargalhadas, únicas carícias permitidas pela distância.


Depois de recarregar as baterias, arrumei a casa para espairecer. O trabalho diferente ajuda. Vivia sozinha, desde o casamento do meu filho (ainda não tinha netos) e a morte do meu marido antes da pandemia com um cancro silencioso no pâncreas. Mais um choque que me ferira inesperadamente e logo ele que era a boa disposição em pessoa.


E, de repente, apavorada, revi os olhos. E lembrei as palavras que, naquela noite trágica, ouvira na minha mente - "Não o salvas! Está perdido! Esse é só o primeiro!" E chorei desalmadamente, entregando-me à autocomiseração. Depois ergui a cabeça. Fosse o que fosse ganhara a primeira batalha mas não ganharia a guerra.


Nessa noite, o caos instalou-se a nível mundial. Houve um apagão geral. Não havia eletricidade nem computadores, logicamente.

Não precisei que me chamassem. No hospital, reinava a desordem e a desorientação.


- Ainda bem que veio, Dra Maria. Não sabemos quanto tempo vai durar o gerador e estamos a mudar os doentes todos para a mesma ala hospitalar. Mas acho que vamos precisar de apoio, porque de certeza que este apagão vai causar estragos. Ai que falta nos faz o Dr. André!


Assustada, olhou para mim, olhos húmidos, e eu consegui sorrir por trás da máscara. Neurocirurgião de primeira, uma referência mundial, e morrera aos quarenta e oito anos.


Preparei-me mentalmente para o inferno que estaríamos prestes a enfrentar (mais um) e com o pequeno rádio de pilhas que alguém desencantou não sei onde, começamos a ouvir as notícias que não eram animadoras. Acidentes nas estradas e em casa, pessoas trancadas em elevadores, inundações, incêndios, medo por todo o lado...


As ambulâncias começaram a chegar a uma velocidade assustadora. Feita a triagem, recebi um doente de um autocarro cheio que tinha capotado inexplicavelmente ao chegar à cidade, numa zona de ravinas bem perto do rio.


O condutor, com várias costelas partidas e um ferimento no fémur da perna direita, só berrava que a culpa não tinha sido dele; o volante tinha sido virado e tinham voado por uma ribanceira aos rebolões. Sem luz, os Bombeiros estavam a ver-se aflitos para conseguirem extrair os feridos da carcaça metálica.


O doente que me atribuíram tinha um ferimento grave perto da aorta e estava inconsciente. Parecia uma fonte a jorrar sangue. Ignorava se o conseguiria salvar. Comecei a dar ordens e, de repente, gelei. O homem abrira os olhos e eu vi aqueles olhos demoníacos que me incomodavam há tanto tempo. Não falou mas ouvi na minha mente "Não o vais salvar!"


- Dra Maria, Aconteceu alguma coisa? Sente-se mal?

Consegui engolir o vómito, fechei a minha mente e transformei-me na máquina que todos admiravam pela precisão dos cortes e pela rapidez de raciocínio. Ninguém me superava em sangue frio e capacidade de enfrentar situações extremas. Não seria agora aquele ali, fosse quem ou o que fosse, que me ia estragar ainda mais o dia.


O homem faleceu duas vezes, mas entre o desfibrilador e até uma massagem direta no coração, quando me diziam que estava morto, consegui que recuperasse. Foram cinco horas de inferno mas saí vitoriosa. Os outros nem viram nem ouviram mas eu vi um fumo escuro a elevar-se nos ares enquanto uma voz me dizia: "Não foi desta, será de outra vez!" Rezei um Padre-nosso. E acalmei.


Mentalmente exausta, ainda estive a operar durante mais de doze horas sem parar.

Quando a luz chegou, o horror da catástrofe era visível no sangue derramado na entrada do hospital que ainda não pudera ser limpo.


Ninguém conseguiu explicar o apagão mundial. Eu podia, mas alguém acreditaria em mim? Só o diabo ou forças diabólicas poderiam ser a sua génese para aumentar ainda mais o sofrimento existente na Terra. Felizmente, os homens da paz e todos os da linha de frente (médicos, enfermeiros, ajudantes) tinham mais uma vez correspondido bem como toda a outra gente.


Tinha havido uma conexão a nível mundial para minorar os prejuízos e enfrentar mais que a "pandemia". E, pela primeira vez, as notícias de interajuda mundial começavam a ouvir-se na comunicação social. Começava a falar-se na ajuda a povos desfavorecidos e ao planeta.


Teria o homem acordado? Estaria disposto a salvar a Terra e a humanidade que nela habitava?

No dia seguinte, fui ver o meu doente, algo receosa. E fiquei extremamente emocionada ao reconhecer naquele homem o meu padeiro que era um doce, um homem de bem.

Esperei nunca mais ver aqueles olhos... mas...

2º Concurso Reinaldo Corona 2021- 1ºprémio Poesia

(10 premiadas) e 10 contos

Fome


Os olhos baços

O corpo esquálido

A magreza

O retrato da fome.

Olha em volta

Pasmada pela fartura

Com raiva surda

Da mesa imensa

Do explorador, do capitalista

Do rico senhor.

Mesa parca

A dor farta

Com água engana a fome

Falsa premissa

Dedos gélidos tocam-lhe

Beijos sem amor

Abraços de pranto

Lágrimas de sonhos frios

Nunca sonhados

Nunca pensados.

Tem calafrios

Quer protestar

Não consegue questionar

Impossível pensar

Bebe angústias

Recusa algemas

Renega correntes

Trinca nadas

Esmola.

Recebe penas

Recolhe piedade

Moedas pequenas

Anódina a vida humana.

À porta da igreja

Estende a mão

Prostrado no chão

Recebe pontapés

Humilhações

Aceita os desdéns

Sente abandono

Partilha medo

E a fome impõe-se.

O ocaso da vida

No horizonte estéril

As nuvens varrem o vento

As ondas embalam os barcos

A fome abraça o mundo

Num aperto profundo

Sem esperança

Sem retorno.

Ervas daninhas

Plantações queimadas

Água envenenada

Gado estéril

Terra infértil

Destruição pelo homem

A lua, impávida,

Mostra-se cheia

Fere o negrume da noite

Que se zanga com o luar

E não deixa o orvalho trabalhar

Nem os pirilampos aparecer

Para a Terra embelezar

E tudo voltar a renascer.

A fome deu a mão à ceifeira

Não deixa o homem sobreviver

Coletâneas

CHIADO BOOKS


Palavras [poesia]. Entre o Sono e o Sonho- Antologia de Poesia Portuguesa Contemporânea – Volume XI- tomo II. Chiado Boooks. Outubro 2019.


Uma viagem Inesquecível [conto]. Natal em Palavras- Coletânea de Contos de Natal. Volume II. Tomo II. Chiado Books. Dezembro 2019.


Meu Amor, minha Colombina [carta de amor]. Três Quartos de um Amor. Volume III. Tomo II. Chiado Books. Fevereiro 2020.


Houve epifania? [poesia]. Quarentena-Memórias de um País Confinado. Portugal. Too II. Chiado Books. Gosto 2020.


Somos Barro [poesia]. Entre o Sono e o Sonho- Antologia de Poesia Portuguesa Contemporânea- Volume XII- tomo II. Chiado Books. Dezembro 2020.


Liberdade Conquistada [poesia]. Liberdade- Antologia de Literatura Livre- Volume YII. Tomo II. Chiado Books. Abril 2021.


O Mostrengo [poesia]. Alma de Mar- Antologia de Literatura Contemporânea. Volume I – tomo II. Edição Portuguesa. Chiado Books. Agosto 2021.


Caminho a Percorrer [poesia]. Entre o Sono e o Sonho- Antologia de Poesia Contemporânea – Volume XIII- tomo II. Chiado Books. Dezembro 2021.


OS MUSIKÉ


Asas da Liberdade [poesia]. Os Musiké- Cadernos 2. Abril e Liberdade- Guimarães Vivências da Democracia. Abril de 2021.


Poesia Libertada [poesia]. Os Musiké- Cadernos 2. Abril e Liberdade- Guimarães Vivências da Democracia. Abril de 2021.


Portugalidade [poesia]. Os Musiké- Cadernos 2. Abril e Liberdade- Guimarães Vivências da Democracia. Abril de 2021.


47 anos depois - o 25 Abril na 1ªpessoa [artigo]. Cadernos 2. Abril e Liberdade- Guimarães Vivências da Democracia. Abril de 2021.


Guimarães, Património Mundial da Humanidade [artigo]. Os Musiké- Cadernos 3 – Guimarães Património Mundial da Humanidade- 2001 nos 20 anos da efeméride 2021.



Maria Teresa Portal Oliveira

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