Vamos questionar a Educação?

Foi ao ler um artigo de um jornal diário, não me lembro já de qual, que acabei por achar o pretexto para, em discurso direto, questionar mais uma vez a Educação (se bem que pretextos não faltem!). Parte deste artigo tem 16 anos e não perdeu a atualidade.

Trinómio: Escola-Meio-Família

Pelo dito, mais uma vez farei Mea Culpa e a reflexão acabará por cair sobre o trinómio - ESCOLA, MEIO, FAMÍLIA - partes que deveriam estar igualmente interessadas e participantes no desenvolvimento harmonioso do indivíduo ou, usando as palavras usualmente usadas, passo o pleonasmo aliterativo, contribuindo de forma igualitária para a formação integral do ser humano.

Aliás, este é um assunto que me toca sempre e «ecoa» em mim de diferentes modos, porque me sinto tripartida.

Sabemos ou fingimos ignorar, da importância da família e da escola relativamente ao desenvolvimento físico e psíquico da criança em formação, tomando muitas vezes as vertentes diametralmente opostas de demasiado presentes ou demasiado ausentes. Quando é que se pode estar ausente estando presente, perguntam vocês, quando ausência significa não-presença. Digo bem, significa. Mas qual será o sentido do que disse?

Saramago… e Daniel Pennac…Vitorio Nemésio…António Ribeiro

Bem a propósito, não resisto a citar José Saramago «Ao contrário do que em geral se crê, sentido e significado nunca foram a mesma coisa, o significado fica-se logo por aí, é direto, literal, explícito, fechado em si mesmo, unívoco, por assim dizer, ao passo que o sentido não é capaz de permanecer quieto, fervilha de sentidos segundos, terceiros, quartos, de direções irradiantes que se vão dividindo e subdividindo em ramos e ramilhos, até se perderem de vista, o sentido de cada palavra parece-se com uma estrela quando se põe a projetar marés vivas pelo espaço fora, ventos cósmicos, perturbações magnéticas, aflições» (in Todos os Nomes).


A respeito desta obra que então tinha à cabeceira, abro aqui um parêntesis para confessar que a li aos soluços e que, quando a iniciei, a pus de lado por uns tempos.

Esta última atitude é um dos Direitos do Leitor enumerados por Daniel Pennac na sua obra «Como um Romance» e transcrevo-o aqui para que o possam ler «Todo o Leitor tem o direito de ler aos soluços, ou seja, aos bocadinhos de cada vez». Por que fiz isso? Mais uma vez vou em busca do sentido ou dos sentidos do ato realizado. Uma constatação se poderá fazer já à partida: que a obra não me empolgou como o «Ensaio sobre a cegueira» ou «O Evangelho segundo Jesus Cristo», tragados de uma só vez ou até mesmo «O Memorial do convento», digerido em duas ou três refeições. Gostos não se discutem e todos têm direito a ter a sua opinião. O estilo lá está, facilmente reconhecível no seu intrincado Português, que foge à compreensão da maioria dos Portugueses. Talvez possa ter sido o tema - de tratar de papelada, de lugares recônditos cobertos de pó e de teias de aranha, de burocracia- a Conservatória e todos aqueles verbetes e certidões causaram-me arrepios e pele de galinha (a tudo quanto citei faço alergia). Talvez tenha sido pela consciencialização de que só existimos porque temos nome, temos uma identidade - não é atrás dessa essência de nós mesmos que perseguimos toda a nossa vida? E quantas vezes nos interrogamos: Porquê a mim? Quem sou eu? Que mal fiz? Talvez mude de opinião, quando fizer uma segunda leitura, se a isso me propuser, talvez… quem sabe! Continuo, porém, a recomendar as três primeiras obras, apesar de também já ter lido tudo quanto escreveu. Gostei do tema de «A Jangada de Pedra» e da forma como foi explorado - a Península Ibérica andar por aí a navegar feita jangada, a construção das próprias personagens, o jogo das implicações políticas, psicológicas e sociológicas que perpassa por toda a obra! Das outras recomendo “As Intermitências da morte”, “O Homem duplicado” e “O Ano da morte de Ricardo Reis”. Só o Saramago para explorar um tema como a morte que não quer ada com Portugal… e no arrepiante livro de terror e policial em simultâneo “O Homem Duplicado”. Todos dizem que temos umsósia. Mas darmos com ele de frente e numa situação tão intrincada…


Creio já ter dito algures que, era eu jovem, passou na televisão um programa com o professor Vitorino Nemésio «Se bem me lembro». Não perdi nenhum! Era sua fã incondicional. Aquele homem começava a desfiar uma meada e quando acabava o programa, tinha a seu lado uma grande quantidade de novelos multicolores que havia desfiado, enquanto procurava a ponta da meada que perdera com frequentes «bem, mas como eu ia dizendo». Não tenho a veleidade nem a imodéstia de me comparar a tão insigne homem de letras do nosso país, mas padecia dessa mesma enfermidade/ qualidade (?) em seguir desfiando a mesma meada. Quantas vezes isso me acontecia em plena aula, porque a imaginação ou o pensamento resolvera seguir uma pista, um clique que surgira num texto, numa conversa, num TPC, no que acontecera no intervalo…

Professora de Língua e Cultura Portuguesas

Por isso me definia sempre perante os meus alunos como professora de Língua e Cultura Portuguesa, quantas vezes Cultura Universal, conforme o assunto que me empolgava no momento tivesse cariz nacional ou não. E também qualquer assunto me servia e nem um «mas como eu ia dizendo» me salvava! Outras vezes nem sabia como tudo começara para poder retomar o fio à meada; o jeito era começar mesmo um outro novelo! E já agora que falo em programas do passado, havia um outro que não perdia: as conversas religiosas, teológicas, chamem-lhes o que quiserem, do então Padre António Ribeiro (falecido Patriarca de Lisboa)… Foram dois homens que, sem serem professores de modo direto e tradicional na sala de aula, foram realmente meus professores e mentores à distância, quase um tipo de ensino mediatizado, efetivo e motivador, porque facultativo.

Motivação – o segredo do sucesso

Eis, pois, o segredo do sucesso por demais conhecido - a motivação, a que se associa o perfil das pessoas (mais uma expressão muito em voga, hoje em dia, ter ou não perfil para…).

Era a empatia que aqueles grandes homens criavam com os telespectadores, o interesse que punham naquilo que diziam (qualquer pequeno assunto era tema de conversa!) e a maneira como o transmitiam, em tom coloquial, que cativava o público de todas as idades, que ficava preso ao pequeno ecrã.


E «como ia dizendo», a formação do jovem é tripartida: a família, a escola e o meio para ela contribuindo, com pesos diferentes. A família peca na maior parte das vezes pela ausência, a escola peca pela impossibilidade física e humana de dar resposta a todos os problemas que afetam os jovens, não podendo responsabilizar-se a tempo inteiro. Resta o Meio e o que acabei de citar foram dois exemplos magníficos de como o meio, de que a ocupação de tempos livresdos jovens é uma importante parte (e deveria ser preocupação prioritária de toda e qualquer comunidade!), pode realmente influenciar, educar o jovem positiva ou negativamente. E poderíamos entrar pela violência gratuita dos programas da TV (em frente da qual os jovens ocupam horas e horas do seu tempo livre!), dos jogos de vídeo… agora os telemóveis, os i-pods, os i-pads, os tabletes, toda a parafernália digital que existe e passar rapidamente para a realidade e- vejam-se os telejornais ou leiam-se as notícias de qualquer dos diários de grande tiragem… Não se procura a informação clara, concisa e precisa, busca-se o sensacionalismo porque vende.


Para quê bater mais no ceguinho? Ontem como hoje, estamos exatamente na mesma posição. Acrescentaram-se as aulas via zoom, via Google Meet e outros programas por causa da pandemia e isso ainda veio agravar substancialmente a situação.


E, no meio de tudo isto, estaremos a formar leitores e escritores? Não creio. Os jovens estão de costas voltadas para a leitura (agora têm a desculpa da pandemia e de estarem confinados em casa muitas vezes), mas… e principalmente, não estamos a criar escritores. E a desculpa é a mesma.


Estes dois anos pandémicos trouxeram um atraso considerável à literacia dos nossos jovens.


Maria Teresa Portal Oliveira

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