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quinta-feira, 25 de janeiro de 2024
quinta-feira, 25 de janeiro de 2024
Escrita a história na 1ª pessoa, pus ponto final.
Cansada, devia ter ficado com a noção de dever cumprido, mas não fiquei. Com a esferográfica a dançar na ponta dos dedos, olhava sem ver a folha branca.
«Estás satisfeita com o final? Achas que vai agradar ao leitor? E a maneira coo a construíste foi a mais apropriada para o público infantil?»
Estas e outras questões foram-me sussurradas por uma voz interior.
Voltei a reler a história. Falava de um pato enciumado. Fazia a vida negra aos irmãos por ser egoísta e não abdicar da atenção da mãe. Eram seis na ninhada e aquele era a ovelha negra da família.
O arco da narrativa estava como o tinha traçado. Começava pelo final inesperado e depois contava a história desde o início, o nascimento da ninhada, no Lago Azul. Cedo o batizaram com o nome de Pato Negro.
«Porque é que lhe puseste o nome de Negro? Podias tê-lo envolvido numa aura de meiguice e de bom comportamento.»
Ora, se tivesse feito aquilo, não havia história…
Mas a voz continuou:
«Podia bem ter contado a história de outra maneira. Tens de ensinar as crianças que não devem ser egoístas nem devem sentir ciúmes dos irmãos e…»
Não estava mesmo para aturar aquela vozinha chata que me estava a azucrinar a paciência. Só faltava que tivesse de mudar aquilo tudo… que fosse plantar batatas!
«Esqueces que estou a seguir os teus pensamentos. Podes não gostar do que digo, mas se me estás a ouvir. Tu lá sabes o motivo».
Sabia mesmo. Não estava a gostar da história, mas tinha razão para a entregar e tinha de o cumprir. Como a história era infantil devia seguir a estrutura: introdução, desenvolvimento, conclusão. Localizar a história no tempo e no espaço, cuidar da personagem…
Resolvi refazer a história e, no fim, o Pato passou a Cinzento, graças à sua bela plumagem cinzenta. Tinha aprendido a lição de que os irmãos são para a vida e se pode contar sempre com eles. O mais fraquinho tinha-lhe salvado a vida.
Desta vez, a vozinha estava calada. Havia unidade de ação e pude descansar.
«Claro que podes. Fizeste o que devias. Dever cumprido.»
Bocejei.
E não vos contei a história, pois não?
Qualquer dia, passo-a para o papel.
O Menino do Quispinho Vermelho
Maria Teresa Portal Oliveira
A ALQUIMIA DAS PALAVRAS
Maria Teresa Portal Oliveira
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