Sentada no chão,encostada à árvore, naquele aldeia pequenina, no começo do outono, ninguém conhecia aquela menina diferente.

Os cabelos soltos misturavam-se com o vento, como folhas teimosas que não tinham caído.

Vestia o outono nos olhos, no vestido em tons de laranja e vermelho, como se o tempo a tivesse pintado com o pincel não da melancolia mas do otimismo.

Os olhos guardavam o brilho dos dias iluminados que começavam a desaparecer com as manhãs nubladas. 

Ninguém sabia o nome da menina, mas as folhas reconheceram-na e, quando caminhava, caíam ao seu redor como se se despedissem de uma velha amiga.

O vento assobiava canções só para ela.

Um dia, o Tomás, um menino curioso aproximou-se:

- Olá? Como te chamas? Estás triste?

A menina olhou-o com olhos brilhantes como gotas de orvalho.

- O outono vai embora e eu também.

O menino franziu a testa:

- Mas ele volta, não volta?

Ela sorriu e disse:

- Eu sou feita do tempo das folhas. Quando elas vão embora, eu também vou. Porém,volto quando o vento voltar com cheiro a canela e chuva fresca e leve.

Fez um sorriso triste e desapareceu.

- Ei, para onde foste? Como te chamas?

Apenas folhas espalhadas e um lenço de tecido fino bordado com fios dourados, junto da árvore onde estivera sentada.

Tinha sido magia.

Guardou o lenço como um tesouro.

E, todos os anos, desde o começo do outono, o Tomás senta-se junto da árvore a observar o rio que serpenteia lá embaixo, no vale, à espera de que as folhas bailarinas, as borboletas e o vento, que fazia cócegas nas orelhas, a trouxessem pelo ar.

E, sempre que lhe perguntavam quem era a menina, sorria e respondia:

- É uma amiga que só aparece quando o outono se despede e as folhas rodopiam no ar e atapetam caminhos e veredas até desaparecerem com o frio e o gelo invernal.