As Férias do Pai Natal
No País da Magia, vivem todas as personagens das histórias infantis e também o Pai Natal, pois também ele faz parte do imaginário infantil.
Ora, ao fim de tantos e tantos anos, século após século, o Pai Natal e os seus duendes estavam um pouco cansados da monotonia das suas vidas: fazer brinquedos, levar alegria às crianças, descer pelas chaminés e, em apenas vinte e quatro horas, ver toda a sua magia desaparecer. E lá recomeçava o desenrolar de uma nova e mesma meada: fazer brinquedos...
Nesse ano, resolveram mudar. Trabalharam duramente noite e dia, durante dez longos meses, para poderem apreciar o mundo dos humanos por um pouco mais de tempo, ou seja, o Pai Natal decidiu gozar umas belas férias.
E foi assim que o saco dos brinquedos se foi enchendo com as miniaturas mágicas para distribuir por todo o mundo e, na noite das bruxas, no Hallowe’en, não foram só todas as figuras horríficas que saíram do País da Magia; saiu também o Pai Natal com as suas renas que, nesse ano, foi brincar no Hallowe’en e gritar «Trick or Treat», nos países anglo-saxónicos e mascarar-se e cumprir rituais antigos de origem céltica, na Península Ibérica, todos eles ligados ao culto dos mortos.
Depois, pegou nas renas e deambulou um pouco por todo o mundo, a fazer turismo, pois então!
E foi assim que foi ao Brasil apanhar um pouco de calor tropical, por lá se deixando ficar pelas praias. E ninguém suspeitava que aquele velhinho supersimpático que se divertia a mergulhar nas ondas era realmente o Pai Natal.
Depois passou para as montanhas e, num instante, rumou aos Alpes, onde se divertiu numa das mais afamadas estâncias de esqui. E todos ficaram admirados com a destreza física e agilidade do velhote que ganhava todas as descidas e era um exímio esquiador. Pudera! Nós sabemos o porquê, os outros é que não.
Cansado da neve, resolveu visitar Portugal. O seu amigo Vasco da Gama já lhe havia dito, há uns séculos, que este pequeno cantinho de terra era um grande país e que o sol era o seu emblema. Encantado, pousou o trenó em Lisboa (claro que não era visível aos olhos dos transeuntes!) e visitou o Mosteiro dos Jerónimos e foi comer os famosos pastéis de Belém, pois era muito guloso e … veio até ao Norte, sempre comendo e bebendo do melhor.
A propósito de bebida, o Pai Natal não nos está a ouvir, está ali distraído a comer umas papas de sarrabulho e a beber um Verde magnífico e eu vou fazer uma inconfidência. Sabem que quando visitou umas caves do nosso magnífico Porto, em Gaia, apanhou cá uma destas bebedeiras! Até se pôs a apregoar quem era! Felizmente, ninguém acreditou e ficou logo são como um pero quando caiu ao Rio Douro que levava águas agitadas e gélidas.
E, fiquem a saber que não é sem razão que a sua barriga é tão proeminente. O Pai Natal é um bom garfo e os petiscos portugueses fizeram-no ficar por estas bandas por muito tempo e a sua barriga, que diminuíra um pouco com os banhos no Rio de Janeiro e o desporto nas montanhas alpinas, depressa retomou o seu volume antigo, garantindo assim que o seu fato vermelho não lhe ficaria a dançar, mas na medida.
O tempo passou e a antevéspera de Natal chegou. O Pai Natal resolveu preparar tudo para poder começar a sua viagem fantástica pelo mundo e, por isso, escolheu um local isolado da Serra da Estrela para os preparativos. Fato vestido, começou a mexer no trenó à procura do saco dos brinquedos e, horror dos horrores, deu conta de que ficara esquecido no País da Magia.
Que fazer? Já não havia tempo de fazer a viagem e voltar, porque isso significava que só poderia fazer a distribuição dos brinquedos no dia 26 de dezembro.
Desesperado, andava de um lado para o outro, quando viu no trenó, meios escondidos, a vassoura e o caldeirão que usara para brincar no Hallowe’en. Tinham sido oferta da Rainha das Fadas que lhe garantira possuírem os dois poderes fantásticos. Seria? Pôs-se a mexer no caldeirão e nada. Pegou na vassoura e pareceu-lhe normal. Se ali havia alguma magia, não era ele que ia dar com ela, por certo.
Mirou, remirou, mexeu, remexeu… e ia desistir quando sentiu que a vassoura estremecia na sua mão e fazia força para se soltar. Largou-a e logo ela se enfiou no caldeirão negro e mexeu, mexeu, rodopiou cada vez com maior velocidade até que do caldeirão saiu uma enorme fumarada esbranquiçada.
Quando o fumo se desvaneceu, a Rainha das Fadas sorriu para o Pai Natal que a olhava atónito e disse:
-Tens três minutos para me dizeres qual é o teu problema. Depois o poder deste feitiço acaba.
Sem saber que mais fazer o Pai Natal deu consigo a responder:
-Esqueci-me do saco dos brinquedos aí, no País da Magia, e só hoje dei pela sua falta!
-Se fizeres esta poção resolverás o teu problema! PUF...
A Rainha das Fadas desapareceu e o Pai Natal viu no chão, bem juntinho ao caldeirão, um papel com o que parecia ser uma receita de culinária.
E, nessa noite, quem pudesse sobrevoar a Serra da Estrela veria uma situação nunca vista - um estranho homenzinho vestido de vermelho e com longas barbas brancas a mexer num enorme caldeirão com uma vassoura e de onde saía uma fumarada feita de partículas de estrelas que subiam aos céus marcando uma rota desconhecida que parecia levar ao infinito e que intrigou os cientistas durante vários dias. É que não conseguiram descortinar a sua origem nem o material que a constituía. Pareciam substâncias doutros mundos.
Aqui que ninguém nos ouve, nós sabemos que levava ao País da Magia.
Quanto aos ingredientes, o Pai Natal não os disse em voz alta, nem me deixou ler o papel e foi procurá-los de noite, mas fui espreitando à medida que os lançava para o caldeirão: risos, sorrisos, gargalhadas, estrelas e para dar consistência, nuvens branquinhas e... outras coisas e umas ervas com um perfume maravilhoso e que faziam muito fumo.
No dia seguinte, o Pai Natal viu no trenó o precioso saco e pôde entregar pontualmente os brinquedos às crianças do mundo inteiro.
E podem crer que o Pai Natal nunca esqueceu estas suas Férias!
Acreditas no Pai Natal? Eu acredito.
Habita no coração de todos os pais e mães do mundo inteiro.
E vitória, vitória... acabou a história.
Maria Teresa Portal Oliveira
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