O tempo tem a medição que lhe quisermos dar na ampulheta, no relógio, no calendário, no correr interminável dos anos.

A saudade não é numerável. Há sempre motivos para ter saudade. Podemos ter saudades de alguém, de algum evento, de um livro que se perdeu, de um objeto que se partiu ou desapareceu...

A saudade de alguém é a mais difícil de aguentar, a que deixa marcas indeléveis. Jjá não me refiro aos nossos familiares que transitam para um outro local, cumprindo as leis da vida.

A dos amigos pode ser bem dolorosa. Perder os amigos da escolinha, do liceu e da faculdade foi um desses tipos.

Encontrei-a, inesperadamente, na livraria.

Tínhamos sido amigas desde a creche até acabar a universidade e continuámos a contactar-nos por algum tempo. A vida separou-nos. A sua batuta pusera-nos em pautas separadas de uma sinfonia que nem era sequer do mesmo compositor.

Naquele dia, em que até tinha decidido não sair de casa, a não ser para ir ao dentista, algo de estranho me puxou para fora de casa muito mais cedo, para o tempo gelado e molhado que se divertia a banhar os transeuntes com chuvadas frias e ventos quase ciclónicos.

Refugiei-me na livraria, onde íamos frequentemente, na época difícil que atravessámos, quando frequentávamos a faculdade. O 25 de Abril colocara-nos num tapete de cravos e  de greves às aulas, de resoluções tomadas em cima do joelho, que nos caíram em cima  depois.

“Perdida por cem, perdida por mil”, ia chegar atrasada à consulta. Pusemos a conversa em dia.

Dela saiu um ramalhete de flores com pétalas sofridas, perfumadas, felizes… casamentos, divórcios, filhos…

A amizade, quando verdadeira, perdura. Trocamos contactos.

Nunca mais nos separaríamos.