Escrever é um ato libertador. Leva-me para outros mundos, principalmente em momentos de grande stresse.
O marcador torna-se a varinha de condão da fada madrinha, o tapete mágico do Aladino, a vassoura de qualquer bruxa que se preze, o bordão de um feiticeiro e lá vou pelos ares da magia que não tem cheiro nem sabor nem brisa nem vento e simplesmente acordo do outro lado.
Pode ser na mesa onde trabalho ou no banco do jardim onde me sento, na mesa do café onde tomo o descafeinado depois do almoço, na cabeleireira… posso estar no meio da multidão que não vejo nem ouço, posso estar sozinha… até mesmo na cama a preguiçar e a ouvir a chuva que batuca na persiana ou o cão da vizinha a ladrar a todas as sombras.
E, nessa altura, surgem as personagens que, escondidas no meu inconsciente, esperam ansiosamente a hora de saltarem para o papel. É difícil impor-lhes ordem. As histórias não podem surgir todas ao mesmo tempo. Ainda resmungam e me lançam olhares rancorosos, nada amigáveis. De nada lhes vale. Escolho as que vão entrar. Porém, quantas vezes, já lançada na história que escrevo, uma dela mais atrevidota resolve fazer a sua aparição, sem licença, desafiando a escritora que vai ter de instruir a narradora sobre como atuar. Trabalho hercúleo, por vezes, pois o plano da história fica todo baralhado e o local onde ela se passa tem de ser retificado assim como o tempo. Já viram o que é vir do século XIII para o século XX ou vice-versa? Sair de um tempo indeterminado do Era Uma Vez e aterrar num tempo da História? Difícil… mas divertido.
Não gosto de cumprir planos e, muitas vezes, sou surpreendida pelo rumo que a história toma apenas porque resolveu tomar o freio nos dentes e decidiu mandar a autora para as “urtigas” e impor um determinado fio condutor da narrativa ao narrador.
É nessas alturas que sou mais feliz. Nunca gostei de planos, posso dizer que sou mesmo “culpada” por não os cumprir e escrever “sem rede” é um desafio bem maior. (Abro aqui um parêntesis para os contos de maior fôlego, novelas ou romances que exigem um plano ou um esquema por muito simples que sejam.) Quando acontece fugir ao estipulado deixo que as personagens atuem, que as ações aconteçam e só depois procuro que elas tenham um fio condutor e deem forma à nova história.
É essa a magia da minha escrita. Sei sempre como começo a história mas nem sempre posso dizer como acaba, na incerteza de que a criatividade resolva aparecer e pregar uma das suas “partidas” à autora, forçando-a a dar uma cambalhota ao enredo original.
Para mim, escrever é mesmo fazer magia: enfiar os fonemas e grafemas no almofariz do qual vão sair as palavras que se vão enfileirar no papel e esperar para ver o resultado.
A Alquimia das Palavras não se faz esperar e logo um vapor se começa a elevar e a envolver a autora colocando-a em transe.
Às vezes, com resultados desastrosos para o quotidiano (Que o digam os tachos e panelas e os almoços esturricados!) mas com ótimos resultados para a escrita!
E se for desafiada, então é que a imaginação e a criatividade dão as mãos e partem à desfilada para a concretização do trabalho “pedido”. Também aqui as ideias surgem e vão sendo desenvolvidas e, se por acaso, outras se impõem lá vai a história mudar o seu rumo…
Para mim, a escrita é realmente um ato libertador e um desafio constante. Escrevam!
Maria Teresa Portal Oliveira
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