Na Terra do Era uma vez havia uma menina que gostava muito de fazer perguntas e uma avó de contar histórias.
─ Era uma vez uma menina como tu, Maria, muito pequenina e fofinha.
─ Como é que sabes, avó?
─ Porque a conheço muito bem.
─ Ah! E onde é que ela mora? No Reino da Fantasia, vó?
─ Bem, às vezes mora lá, outras vezes aqui perto.
─ E como é que ela se chama?
─ Chama-se Maria, por enquanto.
─ Tem o meu nome, vovó?
─ Sim, Maria, tem o teu nome. Um lindo nome que eu também tenho e a tua mãe e muitas mulheres do nosso país. Sabes que, desde que NªSrªde Fátima apareceu aos pastorinhos a 13 de maio de 1917, todas as meninas durante umas décadas eram Marias: Maria qualquer coisa ou qualquer coisa Maria?
─ Ah! Por isso eu me chamo Maria. E como é que essa menina é? É morena ou é loira?
─ Depende dos dias e das histórias, Maria.
─ Não percebi, vovó. Depende dos dias?
─ Sim, Maria. O Era uma vez permite tudo, até mudar o aspeto físico das personagens. Como queres que seja hoje a princesa?
─ Não quero princesa, vovó. Quero uma pastora que está com o rebanho na montanha.
─ Muto bem. Então… Era uma vez uma pastora, pele morena do sol e olhos negros como…
─ Ah! Ah! Conheço essa menina. Sou eu. Sou morena e olhos negros como duas azeitoninhas.
─ Gostas da pastora, Maria?
─ Adoro. Que aconteceu certo dia, vovó?
─ Bem, num certo dia de calor intenso, a Maria dirigiu o rebanho para junto do ribeiro para que as ovelhas, os carneiros, as cabras… os cabritinhos se pudessem refrescar e beber.
─ E apareceu um lobo e atacou uma ovelha ─ disse rapidamente a Maria.
─ Não, calma, Maria. O que aconteceu foi que um cabritinho dos mais pequeninos e tenrinhos caiu à água, num local onde existia um remoinho que sugava todas as coisas boas e más.
─ Ele morreu, vovó?
─ Não fiques aflita que ele não morreu. Se me interrompes sempre não consigo contar a história, Maria.
─ Prometo que não interrompo mais, vovó.
─ Pois o cabritinho estava bem aflito, mas a Maria que nadava muito bem (pertencia ao clube de natação da escola) meteu-se na água e conseguiu salvá-lo.
─ Ainda bem, vovó. Coitado do cabritinho. E depois?
─ Regressaram a casa, pois o sol já se punha no horizonte numa explosão de vermelhos e laranjas.
─ Gosto tanto de ver o pôr do sol, vovó! É sempre tão lindo!
─ Pois é, Maria. E vamos embora que o dia está a dizer adeus e o sol já se deitou por trás da montanha.
─ Ora, vovó, todos sabem que estamos aqui e o Tejo nunca deixaria que nos acontecesse nada de mal, não é, Tejo?
─ Au…au…au…
─ Muito bem, Tejo, és um valente. Vamos, Maria, já passou a hora. Não te posso contar histórias aqui ou chegamos sempre tarde a casa.
─ Ah! Ah! Ah! Tanto faz ser aqui como noutro lado qualquer, vovó. O tempo passa e nem damos por ela. Gosto tanto das histórias que contas! Gosto tanto que venhas comigo!
─ Sabes que isso não pode ser, Maria.
─ Pois sei, vovó. Tens os teus afazeres para além das tarefas de casa. Fazes cestos e cestas tão bonitos! Todos os querem comprar e na feira dos 18, nunca trazes nenhum de volta para casa.
─ Os cestos são o nosso artesanato e vendem-se bem, pois são necessários. São bonitos e são utilitários. Anda, Maria, regressemos a casa.
E a escritora sorriu e deu um final à história que se passara quase toda num diálogo entre a avó e a neta.
A Maria tornou-se uma contadora de histórias como a avó, mas como também as escreve, é uma escritora de literatura infantojuvenil muito conhecida.
Voltou a sorrir e recordou com saudade esses tempos de menina e da avó, uma das melhores recordações da sua infância.
Maria Teresa Portal Oliveira
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