O livro mágico

Era uma vez um livro que nem todos conseguiam ler, pois que, aparentemente, nada estava nele escrito. Não sei como me veio parar às mãos.


Decidi abri-lo e maravilhou-me. Abriu o portal de entrada para as pessoas especiais (eu devia ser uma delas) e mergulhei nas suas páginas mágicas.

Inesperadamente, as letras começaram a surgir a grande velocidade.

Era um livro muito especial que continha histórias de mundos mágicos e incríveis. Antigo e misterioso, guardava segredos e aventuras que encantavam todos que o conseguiam ler.


Assim que comecei a ler, fui transportada para um mundo totalmente novo, cheio de aventuras e personagens fascinantes. Não posso dizer se era infantil ou para adolescentes ou para adultos, porque as personagens apareciam em catadupa: infantis, juvenis, jovens adultos e até para adultos. Cada palavra escrita era uma nota musical para os meus ouvidos naquela pauta maravilhosa livresca, e eu não conseguia parar de ler. Sempre adorei escrever a ouvir música ou ouvir música e escrever o que a música me sugere ou o país musical que eu tivesse talvez visitado. Não sei. Acho que entrava numa espécie de transe e só depois via o resultado. Podia ser uma história, um conto um poema, um romance,… Teriam as letras e as notas musicais dado as mãos para escreverem aquele livro especial?


À medida que avançava na história, sentia que existia uma simbiose entre o livro e eu, que me relacionava profundamente com todos os elementos necessários para a construção de uma narrativa: o narrador, as personagens, os antagonistas, o espaço, o tempo…


Eu ria, chorava, emocionava-me com cada reviravolta e revelação. Era como se o livro estivesse falando diretamente comigo, tocando a minha alma de uma maneira que nenhum outro livro havia feito antes.

Se fosse de poesia, era um desfilar de emoções, de sentimentos, de jogos de palavras que brincavam com a linguagem mais simbólica, criativa e estética. Com métrica, ritmo, rimas, figuras de linguagem, a poesia transmite ideias, sentimentos, emoções e experiências.


Quando finalmente acabei de o ler, fiquei com um sentimento de gratidão por ter tido a oportunidade de ler aquela história especial.


Esqueci-me de dizer que aquele livro era tão especial que eu, sempre que o lia, havia uma história, poema ou conto… diferente.

Guardei o livro com carinho, sabendo que sempre que quisesse poderia voltar a ele e viver uma nova história única e mágica. Aquele livro tinha-se tornado uma parte de mim.


Porém, o livro também tinha o seu lado sombrio. Aqueles que não respeitavam suas histórias e tentavam usá-lo para benefício próprio eram castigados pelo próprio livro, que criava desafios e obstáculos cada vez mais difíceis para impedi-los de alcançarem os seus objetivos.


E o livro continuou a ser lido por muitos e guardado com cuidado, sempre pronto para revelar seus segredos e proporcionar incríveis aventuras àqueles que se atrevessem e conseguissem explorar as suas páginas, porque respeitavam a escrita.


Deste modo, ele continuou a imortalizar as histórias mágicas que nele habitavam, mas só para aqueles que as soubessem ler, que as quisessem ler e que quisessem viver para outros mundos imaginados, fantásticos, de terror mesmo…


Já viste um livro assim? Eu já, sempre que escrevo um. Parto para um mundo só meu, viajo com as personagens que vão surgindo, ponho umas, retiro outras, vivo as suas aventuras, as suas desgraças, mudo enredos…


Desta forma, levo-te a ler-me.

Consegui?


Maria Teresa Portal Oliveira

© 2021 | Maria Teresa Portal Oliveira I Política de Privacidade I Termos & Condições