As Gémeas Diabólicas
1
Adozinda e Deolinda eram duas irmãs gémeas diabólicas. Possuíam génio azedo e amor pela bisbilhotice.
O padre Artur bem as punha a fazer penitência. Não resultava. Enquanto bichanavam as orações olhavam para todo o lado para espalharem segredinhos venenosos.
-Que bruxas! – pensava o padre. – Perdoai-me, Senhor, mas estas são insuportáveis, mesmo para mim que sou Vosso servo.
Um dia, vá-se lá saber porquê, ambas ficaram afónicas. Foi uma benesse para a aldeia e para os seus habitantes.
2
Foi sol de pouca dura, esse interregno de espionagem e de línguas afiadas. As" Indas" eram mesmo duas bruxonas da pior espécie e só usavam a igreja por causa da água benta cuja fórmula não lhes tinha sido ensinada na clareira da floresta. Lá, numa noite de lua cheia, no exame que lhes daria o diploma de bruxas provisórias, esqueceram de adicionar a parte líquida do preparado. Resultado : caldeirão esturrado. O castigo traduziu-se na obrigatoriedade de roubo do líquido capaz de pôr como novinho o caldeirão das provas.
3
Não era tarefa fácil. O padre Artur estava de pé atrás com elas e vigiava-as com mil olhos. Quando saía da igreja, ficava o sacristão, um faz-tudo muito útil e espertalhão.
As duas manas bem procuraram atraí-lo com vários feitiços – o vemcá, o dormeempá, o esquecetudo… Parecia imune a tudo aquilo.
Um dia, viram-no sair da sacristia a caminho da casa paroquial. Com um clicar dos dedos, apareceram dentro da igreja, encheram uma garrafinha com água benta e saíram.
Radiantes, desapareceram e apareceram na clareira. Deitaram o líquido no caldeirão e BOOM… uma explosão enorme. Ficaram todas enfarruscadas.
O líquido era vinagre.
É que as manas tinham ficado afónicas e anósmicas. Não sabes o que é? Não tinham cheiro.
Acabaram por ser enviadas para a Terra dos Inúteis, lá nos confins do mundo, ninguém sabe onde.
Sacristão bem espertalhão, hem!? E se vos disser que era o mago Sabichão?
Maria Teresa Portal Oliveira
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