Num dia acinzentado e a ameaçar chuva, decidi arejar. Sentia-me inquieta e precisava de estar só com os meus pensamentos.
Peguei no carro e fui esconder-me no seio da natureza, onde os ares ainda são puros e ninguém nos persegue.
No coração do Parque Nacional da Peneda-Gerês, toda enquispada, com calças à prova de água e botas (que só uso em casos extremos), mergulhei na natureza em toda a sua grandiosidade. Mal cheguei, o ar puro das montanhas encheu-me os pulmões com ar gelado e o som dos riachos fazia uma melodia tranquila, que me fez esquecer o ritmo apressado do dia a dia.
Fiz mais. Pus o meu iphone no máximo e enveredei pelas obras de Mozart e a 5ª Sinfonia de Beethoven que agora dizem fazer regredir as células cancerígenas. Não sei se é verdade ou mais uma fake news dessas que nos invadem o dia e nos dão cabo dos neurónios.
O passeio começou junto à barragem de Vilarinho das Furnas, onde as águas calmas refletiam o verde vigoroso das encostas. Não sei se chuviscava ou não, porque as copas densas das árvores não permitiam que ela chegasse até mim. E o caminho foi-se estreitando e as cascatas surgiam escondidas entre as rochas e pequenos trilhos que convidavam à exploração. Um convite que não aceitei, pois tive medo de me perder.
Esqueci-me de vos dizer que tinha trazido comigo um enorme novelo de corda, pois não acreditava no GPS, que ia desenrolando. Assim acertaria com o caminho de regresso. Podem gozar-me à vontade, mas a floresta pode ser arrepiante, mesmo para quem não receie do Lobo Mau ou da bruxa da Casinha de Chocolate.
O cheiro da terra molhada misturava-se com o aroma dos pinheiros e das giestas floridas, criando um ambiente mágico. E, logo ali, como já é habitual, sentei-me num enorme pedregulho e assentei no meu caderninho algumas ideias para fazer uma história ou um conto.
Mais adiante, o trilho levou-me até um marco miliário, monumento romano da Geira, a via romana que ligava Braga a Astorga, marcando distâncias em milhas romanas (cerca de 1480m) com inscrições que homenageavam os imperadores, e muitos ainda se encontravam no trilho. Havia ali uma espécie de café para acolher os caminhantes que se atreviam por aquelas paragens, também porque a Geira faz parte dos caminhos de peregrinação a Santiago de Compostela. Retemperei as forças degustando mel e pão caseiro. E um café que me aqueceu a alma.
O tempo parecia ter parado ali. Já não avancei mais. O sol punha-se e eu estava sozinha. No regresso, o pôr do sol tingia o céu de tons dourados e rosados, que se refletiam nas montanhas.
O Gerês deixou-me uma sensação de paz e uma vontade imensa de voltar. Sussurrou-me murmúrios de água e vento. As montanhas guardavam segredos antigos, e o verde parecia respirar comigo.
Num riacho atrevido, descalcei a bota e deixei o pé tocar a corrente fria – ui – arrepiei-me toda e o tempo, por um instante, deixou de existir.
Ali, entre o som do riacho e o silêncio da alma, encontrei-me.
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Elogio de Carla Silva

Maria Teresa Portal Oliveira
A ALQUIMIA DAS PALAVRAS

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